sexta-feira, 27 de maio de 2011

Outro Paradoxo da Oração: "Vãs Repetições" Vs "Insistência"

Considerando Mateus 6.7, Lucas 11.8 e Lucas 18.5

Qual é a diferença entre as "vãs repetições" dos gentios que desejavam ter suas orações respondidas com base em seu "muito falar" (Mt 6.7) e a insistência da viúva que vinha ao juiz e o molestava, em busca de proteção legal (Lucas 18.5), ou a importunação do  homem que procurou seu amigo à meia noite e prevaleceu, fazendo o outro levantar-se e dar-lhe pães (Lucas 11.8)?




  • Em Mateus 6.7-8 ACF, Jesus introduziu a Oração do  Pai Nosso dizendo: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos".
  • Em lucas 11.5-8 ACF, depois de ensinar a Oração do Pai Nosso, Jesus contou uma parábola sobre um homem persistente que procurou seu amigo à meia noite: "Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister" (v 8).
  • Em Lucas 18.1-5 ACF, Jesus contou uma parábola sobre uma viúva que apelava a um juiz injusto. Jesus disse que o objetivo da parábola era ensinar "o dever de orar sempre, e nunca desfalecer" (v 1). O clímax traz estas palavras: "Todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito" (v 5).
Embora Mateus 6.7 advirta contra as "vãs repetições", todas estas passagens têm algo em comum: nos encorajam a orar a Deus vez após vez. Em Mateus, depois da advertências a respeito de "vãs repetições", Jesus disse: "Portanto, vós orareis assim... O pão nosso de cada dia nos dá hoje". Portanto, embora "vãs repetições sejam más, pedir o pão diário, pelo menos 365 vezes no ano, não é mau.
E, se a súplica por pão deve ser repetida a cada dia, isso provavelmente se aplica também às outras petições da Oração do Pai Nosso. Todos os dias, devemos orar pela santificação do nome de Deus, a vinda de seu reino, o cumprimento da sua vontade conforme ela se realiza no céu e o perdão dos pecados. Portanto, o ensino de Mateus 6 concorda com o ensino de Lucas 11 e Lucas 18, no sentido de que a oração freqüente e persistente é uma coisa boa.
A questão chave é esta: Qual o perigo que Mateus 6.7-8 nos adverte no tipo de oração contínua e persistente, que não desiste, mas continua a pedir, buscar, a bater (Mt 7.7, Lc 11.9)? Em Mateus 6.7-8 ACF, há duas cláusulas que nos oferecem a solução: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes."

1 - "que pensam que por muito falarem serão ouvidos"

A advertência, neste caso, parece referir-se a pensar que nossas orações são capazes de  impressionar e constranger a Deus. Era como se Jesus quisesse dizer: "Sim, vocês podem entender as parábolas do amigo importuno e da viúva persistente com o sentido de que Deus se impressiona com muitas palavras e  outros recurso humanos. Mas, na realidade, não é a isso que eu desejo chamar a atenção de vocês. Eu lhes chamo a atenção à ausência de recursos humanos em quaisquer outras fontes, exceto em Deus". A oração correta sente-se destituída, sem recursos. Se recorrermos ao nosso íntimo em busca de mais e mais frases para mostrar a Deus o que pretendemos dizer, estamos em perigo de "vãs repetições". Se procuramos mais palavras tendo em vista mostrar a Deus que somos mais dignos do que se tivéssemos apenas um clamor, estamos em perigo de "vãs repetições".

2 - "porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes"

A advertência nestas palavras é que existe um tipo de oração com a qual Deus não se importa. Jesus disse: "vosso Pai sabe o que vos é necessário. Portanto, Ele não está desatento. Além disso, Deus é vosso Pai e se  interessa por vocês. Então, não orem de um modo que faça parecer que Ele ignora as necessidades ou é indiferente a vocês".
Mas, por que a persistência e a tenacidade da oração contínua não O fazem parecer assim? Elas podem. Por isso, somos chamados por Jesus a achar o equilíbrio. Existe uma razão por que Jesus não nos chama apenas à simplicidade e à brevidade, mas também à persistência e à tenacidade. A exigência da oração que prevalece reprova aqueles que oram de maneira rápida, como se eles estivessem apenas tentando encobrir seus motivos. Não estão buscando a Deus como sua única esperança. Estão buscando a Ele e a outros recursos, simultaneamente. Tais orações não prevalecem.
Em outras palavras, existem perigos em ambos os lados: um perigo necessita de admoestação de "orar sempre, e nunca desfalecer" (Lc 18.1) ACF; e outro perigo necessita da admoestação de evitar "vãs repetições"  (Mateus 6.7) ACF. Não sejamos mais temerosos da persistência do que foi Jesus, quando orou durante toda a noite (Lc 6.12). Também não sejamos mais temerosos da repetição do que Jesus  o foi, quando orou três vezes a mesma coisa: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice" (Mt 26.39, 42, 44) ACF. Se orarmos no Espírito e sentirmos que Deus é nossa única esperança, acharemos a maneira certa de orar.

Por: John Piper

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