sexta-feira, 26 de agosto de 2011

SALVAÇÃO É UMA OBRA SOBRENATURAL DE DEUS




"Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal". 
(Jeremias 13.23)

Jeremias falara àquelas pessoas, e elas não lhe deram ouvidos; chorara por elas, e elas não o levaram a sério. Os próprios juízos de Deus não conseguiram movê-las, e ele chegou à conclusão de que elas eram incorrigíveis e não podiam melhorar, tal como uma pessoa de pele escura não pode mudar a cor da sua pele, ou um leopardo mudar a cor das suas manchas.

I A PERGUNTA E SUA RESPOSTA: "PODE ACASO O ETÍOPE MUDAR SUA PELE?"

A resposta que se espera é: "Não pode". A impossibilidade exterior é mudar o etíope a cor de sua própria pele, um experimento físico ainda não realizado.
A impossibilidade  interior é a mudança de coração e caráter, por alguém "acostumado a fazer o mal"
Pode ele - quererá ele - transformar-se? Nunca.

A dificuldade no caso do pecador, está:
1 - Na força do hábito. O uso é uma segunda natureza. A prática da transgressão tem forçado cadeias e amarrado o homem ao mal.
2 - No prazer do pecado, o que fascina e escraviza a mente.
3 - No apetite do pecado, que adquire intensidade proveniente da indulgência. Embriaguez, lascívia, cobiça, etc., são uma força crescente.
4 - Na cegueira do entendimento, que impede os homens de verem o mal de seus caminhos, ou notarem o perigo dos mesmos.

Por estes motivos, responderemos à pergunta na negativa: os pecadores não podem regenerar-se, assim como o etíope não pode mudar a pele, ou o leopardo as suas manchas.

Por que então pregar-lhes?

É ordem de Cristo (Mt 28.19.20) e temos pro obrigação obedecer.
A incapacidade deles não impede nosso ministério, pois pode acompanhar a Palavra.

Por que dizer-lhes que é seu dever arrepender-se?

Por que é assim: a incapacidade moral não é desculpa; a lei não deve ser rebaixada, pois o homem se tornou mau demais para guarda-la.

Por que falar-lhes desta incapacidade moral?

Para leva-los ao desespero do ego, e fazê-los olhar para Cristo.

II OUTRA PERGUNTA E RESPOSTA. PODE A PELE DO ETÍOPE SER MUDADA? OU PODE O PECADOR SER FEITO DE NOVO?

Esse é um assunto muito diferente, e nele está a porta de esperança para os homens. Sem a manor duvida o Senhor pode fazer um etíope se tornar um japonês ou vice e verça. O maior pecador pode ser transformado em santo. As bases para assim crermos são muitas.

Eis algumas delas:

1 - Tudo é possível para Deus. "Quem poderá pois salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível." (Mt 19.25-26)
2 - O Espírito Santo tem poder especial sobre o coração humano. "o Senhor lhe abriu o coração [de Lídia] para que estivesse atenta ao que Paulo dizia." (At 16.24)
3 - O senhor Jesus decidiu operar esta maravilha, e para esse fim veio a este mundo, morreu e ressuscitou. "Ele salvará o seu povo dos seus pecados." (Mt 1.21)
4 - O evangelho está preparado com este fim. 

Nisso reside a esperança para o mais inveterado pecador. Não no batismo ou nas lágrimas ardentes do remorso, ou na panaceia dos votos e promessas, mas em sua Palavra de poder, que opera maravilhas da graça. "Lázaro, sai para fora." (Jo 11.43)

Se fosse possível àqueles que têm estado por séculos, no inferno, retornar à terra (e não serem regenerados por Deus), creio firmemente que, não obstante tudo que sofreram pelo pecado, ainda assim o amariam, e voltariam à sua prática. (John Ryland).

As seitas cristãs da Síria parecem considerar um verdadeiro caso de conversão de drusos ao cristianismo como inadmissível. "Os filhotes de lobo", dizem eles, "não são domesticados". A conversão de muitos pecadores parece igualmente impossível, mas quantos desses trunfos da graça são registrados como aquele que John Newton descreveu de si próprio: "Eu eras outrora um animal selvagem, que vivia na costa da África, mas o Senhor Jesus apanhou-me, domesticou-me, e agora as pessoas vêm ver-me como se fossem ver os leões na torre".

Não podia ter havido socorro?
Senhor, tu és Santo, tu és puro:
Meu coração não é tão mau, 
Tão louco, mas tu podes, certo, purificá-lo.
Fala, bendito Senhor, queres tu conceder
A mim os meios para torná-lo limpo?
Sei que queres: teus sangue foi vertido.
Devia ele ainda correr em vão?
(Christopher Havei, em "Schola Cordis" [Escola do Coração]).

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Por: Spurgeon "De Gênesis a Apocalipse", pg 128,129.





segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Livre - Arbítrio e Livre Agência do homem

 Por: Ernest C. Reisinger



1. Deus dotou a vontade humana com a liberdade e o poder natural de agir por escolha, sem ser forçada ou predeterminada por alguma necessidade natural para fazer o bem ou o mal.[1]

1 Mateus 17:12; Tiago 1:14; Deuteronômio 30:19.

2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que era bom e agradável a Deus.[2] Essa, porém, era uma condição mutável, pois o homem podia decair dessa liberdade de poder.[3]

2 Eclesiastes 7:29.
3 Gênesis 3:6.
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3. Com a queda no pecado, o homem perdeu completamente toda a sua habilidade volitiva para aquele bem espiritual que acompanha a salvação.[4] Por isso, o homem natural é inteiramente adverso a esse bem, e está morto em pecados.[5] Ele não é capaz de se converter por seu próprio esforço, e nem mesmo de se dispor a isso.[6]

4 Romanos 5:6; Romanos 8:7.
5 Efésios 2:1,5.
6 Tito 3:3-5; João 6:44.

4. Quando Deus converte um pecador, e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta da sua escravidão natural do pecado,[7] e, somente pela graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom.[8] Mesmo assim, por causa de certas corrupções que permanecem, o homem redimido não faz o bem perfeitamente e nem deseja somente aquilo que é bom, mas também o que é mau.[9]

7 Colossenses 1:13; João 8:36.
8 Fl.2:13.
9 Romanos 7:15,18-19,21,23.

5. Somente no estado de glória a vontade do homem será transformada, perfeita e imutavelmente;10 e então será livre para fazer apenas o bem.

10 Efésios 4:13.

Confissão batista de 1689, item 9 livre-arbítrio

Qualquer estudo da vontade do homem é incompleto sem alguma explicação da diferença entre livre-arbítrio e livre agência. Estou usado a palavra livre significando “independente, soberana, utônoma”, isto é, “não sujeita ao governo ou controle de outro”. Um agente é “alguém age, realiza um ato, ou tem poder para agir – uma força em movimento”.

O homem é um agente moral livre, mas ele não tem um livre-arbítrio. O homem é somente livre para agir de acordo com sua natureza, e o mesmo nasce com uma natureza pecaminosa (veja Salmos 51:5); "Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe."

Alguém não perseguiu muito o estudo do livre-arbítrio e da livre agência até que ele dê de frente com uma aparente contradição (note bem, eu disse “aparente”). Devemos, com toda candidez, reconhecer esta aparente contradição. Ela merece algumas sérias e pensadas considerações. Por exemplo, devemos falar sobre os mandamentos de Deus e a inabilidade do homem – a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. 

Os Mandamentos de Deus e a Inabilidade do Homem 

A ordem do evangelho – “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” – é endereçada pela autoridade divina a toda criatura e, portanto, é o dever de todo homem a obedecer. Há alguns que negam isto sob o fundamento de que o homem não tem a capacidade espiritual de crer em Jesus. Contudo, é totalmente um erro imaginar que a medida da capacidade moral do pecador é a medida de seu dever. Há muitas coisas que o homem deve fazer, as quais agora ele não tem o poder moral e espiritual (embora não o físico) para fazer. Um homem deve ser casto; mas se ele tem sido por muito tempo tão imoral que não possa reprimir suas paixões, ele não está, portanto, livre da obrigação. É o dever de um devedor pagar as suas dívidas; mas se ele tem sido tão perdulário que trouxe a si mesmo a uma pobreza sem esperança, ele não está exonerado de suas dívidas por causa de sua inabilidade de pagar.

Todo homem deve crer no que é verdadeiro, mas se sua mente se tornou tão depravada que ele ama a mentira e não deseja receber a verdade, então, está ele escusado? Se a lei de Deus tivesse que ser rebaixada de acordo com a condição moral dos pecadores, teríamos uma lei graduada por uma tabela variável para se adaptar aos graus da pecaminosidade humana. De fato, o pior homem deveria estar sob a menor lei e tornar-se, conseqüentemente, o menos culpado. Os requerimentos de Deus seriam de uma quantidade variável, e, na verdade, não estaríamos debaixo de regra alguma.

O mandamento de Cristo permanece bom, não obstante quão maus os homens possam ser; e quando Ele ordena que todos os homens em todo o lugar se arrependam, eles são requeridos a se arrependerem, tanto se sua pecaminosidade torna impossível para eles agir voluntariamente assim, ou não. Em todo caso, é o dever do homem fazer o que Deus o ordena. Mas, alguém pode perguntar, como pode uma pessoa ser um agente livre e responsável se suas ações foram pré-ordenadas desde a eternidade? Novamente, um agente livre e responsável significa uma pessoa inteligente que age com autodeterminação racional. Pré-ordenação significa que desde a eternidade passada Deus fez certo o curso real dos eventos que ocorrem na vida de cada pessoa e no reino da natureza.

É importante notar de início que a verdadeira solução desta questão difícil com respeito à soberania de Deus e a liberdade do homem, não deve ser encontrada na negação da soberania de Deus; nem deve ser encontrada na negação da responsabilidade do homem. O mesmo Deus que ordenou os eventos, ordenou a liberdade e a responsabilidade humana no meio destes eventos. A Bíblia ensina que da mesma forma com é importante afirmar a verdadeira validade dos agentes secundários (homem), é importante afirmar a validade última da causa final (Deus). Alguém pode prontamente ver que temos como solução o fatalismo por um lado, ou o plano e propósito inteligente de um Deus todo-poderoso e pessoal, do outro. A Bíblia claramente ensina que Deus tem um plano e Ele tem a sabedoria e o poder para executar esse plano.

O Pelagianismo nega a depravação humana, a necessidade da graça eficaz e exalta a vontade humana acima da vontade divina. Os Pelagianos não crêem na imputação do pecado de Adão. Negando a pecaminosidade do homem, o Pelagianismo exalta a vontade de homem e abre a porta da crença Arminiana de que o homem livremente, por si mesmo, escolhe a Deus. Portanto, o Pelagianismo é a mão do Arminianismo; de fato, o “Arminianismo” pode se encontrado doze séculos antes de Arminio nascer. Uma citação da Exposição da Confissão de Fé de Westminster, de Robert Shaw, colocará a visão Arminiana e Calvinista sobre o livre-arbítrio em perspectiva: A decisão da maioria dos pontos entre controvérsia, entre Calvinistas e Arminianos, como o Presidente Edwards observou, depende da determinação da questão – Em que consiste aquela liberdade da vontade que é requerida pela agência moral? De acordo com os Arminianos três coisas pertencem a liberdade da vontade: - 1. Que a vontade tem um poder auto-determinante , ou uma certa soberania sobre si mesma, e sobre seus próprios atos, pelo qual ela determina suas próprias volições. 2. Um estado de indiferença, ou de equilíbrio, segundo o qual a vontade não possui qualquer propensão antecedente, e inteiramente livre de qualquer inclinação atrativa para um lado ou outro. 3. Que a volição, ou atos da vontade, são contingentes, não somente em oposição a toda restrição, mas a toda necessidade, ou a qualquer ligação fixa e certa com algum prévio fundamento ou razão de sua existência. Os Calvinistas, por outro lado, sustentam que um poder na vontade para determinar suas próprias determinações é desprovido de significado, ou se suposto, é contrário aos primeiros princípios da filosofia: algo acontecer sem uma causa; a idéia da alma exercer uma ação de escolha de preferência, enquanto, ao mesmo tempo, a vontade está em perfeito equilíbrio, ou estado de indiferença, está repleta de absurdos e auto-contradições; e, como nada pode acontecer sem uma causa, os atos da vontade nunca são contingente, ou sem necessidade – entendimento por necessidade, uma necessidade de conseqüência, ou uma ligação infalível com algo precedente. De acordo com os Calvinistas, a liberdade de um agente moral consiste no poder de agir de acordo com sua escolha; e aqueles ações são livres quando são realizadas sem qualquer compulsão ou restrição externa, em conseqüência da determinação de sua própria mente. “A necessidade do desejo e da atuação do homem em conformidade com suas apreensões e disposição, é, na opinião deles, completamente consistente com todas a liberdade que pode pertencer a uma natureza racional. O Ser infinito necessariamente quer e age de acordo com a perfeição absoluta de sua natureza, todavia com a mais alta liberdade. Os anjos necessariamente querem e agem de acordo com a perfeição de suas naturezas, todavia com completa liberdade; porque este tipo de necessidade está tão longe de interferir na liberdade da vontade, que a perfeição da liberdade da vontade descansa em tal necessidade. A própria essência de sua liberdade descansa em agir conscientemente, escolhendo ou rejeitando sem qualquer compulsão ou restrição externa, mas de acordo com princípios internos de apreensão racional e disposição natural”. [1]

Assim, os Arminianos e os Calvinistas diferem sobre suas condições qualificatórias do que constitui um livre-arbítrio. Os Calvinistas crêem que o homem é livre e agir de acordo com sua natureza. Os Arminianos, com suas origens Pelagianas que negam a depravação moral, crêem que a vontade pode fazer escolhas que sejam completamente não contaminadas por sua natureza e, assim, ter um “livre-arbítrio”. Em contraste, os Calvinistas crêem que o homem é um agente livre – livre para agir de acordo com sua própria natureza. Livre agência não deve ser confundida com “livre-arbítrio”. Por causa da queda, os homem perderam sua capacidade – a vontade – de obedecer a Deus, mas eles são da mesma forma responsáveis para com Deus de obedecer perfeitamente os Seus mandamentos. Dessa forma, Spurgeon pôde dizer: “Eu temo mais do que qualquer coisa, o você ser deixado ao seu próprio livre-arbítrio”

O Arminianismo, ao lado do hiper-Calvinismo, argui que os pecadores não podem ser obrigados a fazer o que eles não são capazes de fazer, a saber, crer em Cristo para salvação, visto que a capacidade para crer pertence somente aos eleitos e é dada somente num tempo determinado pelo Espírito de Deus. Eles dizem: “Porque um pregador chamar seus ouvintes ao arrependimento imediato e fé, é negar tanto a depravação humana como a graça soberana”. Assim eles dizem. Spurgeon diz o seguinte sobre as implicações do livre-arbítrio:

"De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem? Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: "Eu quero" ou "Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule Seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não". Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não de pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos 9:16). [2]

A missão de nosso Senhor não era salvar todos a quem Ele se dirigia; era salvar dentre eles todos quanto o Pai havia lhe dado: “Todo o que o Pai me dá, virá a mim” (João 6:37). Oh inconverso, sua vontade não está posta sobre o que determina sua esperança – a vontade não pode colocar a si mesma em liberdade. Somente Deus pode colocar o prisioneiro em liberdade.

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NOTAS:

[1] - Robert Shaw, An Exposition of the Westminster Confession of Faith (Scotland: Christian Focus
Publications, 1992) 116 
[2] - Como citado no Evangelical Times, Abril de 1996

Fonte: www.monergismo.com

sábado, 6 de agosto de 2011

O Amor ao Próximo [Parte 2]

Esta é uma série de 3 postagens sobre: O Amor ao Próximo.


O erro moderno


O erro antigo girava em torno da palavra "próximo"; o moderno gira em torno de duas suposições sobre o que significa "como a Si mesmo". Primeiro, presume-se que as palavras são um mandamento e não uma afirmação. Ou seja, imagina-se que Jesus está convocando as pessoas ao amor a Si mesmas, para que possam amar os outros como amam a Si mesmas. Em segundo lugar, presume-se que este amor a Si mesmo que Jesus supostamente requer eqüivale a auto-estima, auto-aceitação, auto-imagem positiva ou coisas do gênero. Os proponentes dessa interpretação põe as duas suposições juntas da maneira seguinte: a primeira tarefa da pessoa que obedece a Jesus é desenvolver uma auto-estima elevada, para poder cumprir a segunda metade do mandamento, que é amar os outros como ama a Si mesma. Será que era isso que Jesus queria dizer? Não creio. Essas duas suposições dependem uma da outra, portanto, vejamos as duas juntas para ver se o texto as confirma. Em termos gramaticais, é impossível construir as palavras "como a Si mesmo" como uma ordem. Se você acrescenta o verbo, o mandamento fica simplesmente: "Você deve amar seu próximo assim como você, na verdade, já ama a Si mesmo". Jesus não está dizendo às pessoas que se amem; ele presume que elas já o fazem. Até onde sabemos, Jesus nunca considerou a hipótese de que houvesse alguém que não se ama. Usando as palavras de Paulo em Efésios 5.29, "ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida". Se isso é assim, então o amor a Si mesmo de que Jesus fala é bem diferente da auto-estima que com tanta freqüência se imagina que seja o sentido da frase. Para mostrar o que Jesus entende por amor a Si mesmo, podemos colocar a seguinte questão: Não é razoável presumir que as duas vezes que se usa "amar" no mandamento "Ame o seu próximo como você ama a Si mesmo" têm o mesmo sentido? Jesus deixa claro o que ele quer dizer com o verbo "amar" na primeira metade: significa interromper
sua atividade e gastar seu óleo, vinho e dinheiro para fazer o que você acha que é melhor para o seu próximo. Significa ter um coração disposto para buscar o bem de outra pessoa. Dando à palavra "amar" o mesmo sentido na segunda parle do mandamento, obtemos isso: "Você deve buscar o bem do seu próximo do mesmo modo que você naturalmente procura o seu próprio bem. Alimente e cuide do seu próximo carente, assim como você, por natureza, alimenta e cuida de Si mesmo". Outra maneira em que Jesus disse essencialmente a mesma coisa foi: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós" (Mt 7.12). "Façam aos outros" corresponde a "Ame o seu próximo". "O que querem que eles façam a vocês" corresponde a "como você ama a Si mesmo". Assim, o amor a Si mesmo é definido na Regra Áurea pelo desejo que nós temos do bem que os outros devem nos fazer.


O amor por Si mesmo não é ordenado, mas pressuposto

Em resumo, então, "Ame o seu próximo como você ama a você mesmo" não é um mandamento, mas um pressuposto. Todas as pessoas se amam. Além disso, o amor a Si mesmo de que Jesus fala não tem nada a ver com a noção generalizada de auto-estima. Não significa ter uma boa imagem de Si mesmo ou sentir-se especialmente feliz consigo mesmo. Significa simplesmente desejar e buscar o próprio bem. E nós devemos observar que a posição de Jesus não é afetada pelo fato que a maioria das pessoas tem uma noção distorcida do que é bom para elas. Um homem pode tentar encontrar seu bem em uma garrafa de cachaça, no sexo ilícito ou em uma moto veloz. Assim mesmo, todos os seres humanos desejam e buscam o que acham, pelo menos na hora de escolher, que os tornará mais felizes. Um mandamento bem radical Somente quando se vê "amor a Si mesmo" nesta luz é que a força tremenda do mandamento "Ame o seu próximo como você ama a Si mesmo" se manifesta. Este é um mandamento bem radical. Com "radical" quero dizer o seguinte: ele expõe a raiz da nossa pecaminosidade e, pela graça de Deus, a corta. A raiz da nossa pecaminosidade é o desejo da nossa própria felicidade longe de Deus e longe da felicidade dos outros em Deus. Todo pecado vêm do desejo de ser feliz, separado da glória de Deus e do bem dos outros. Outro nome para esta raiz da pecaminosidade é orgulho. Orgulho é a presunção de que podemos ser felizes sem depender de Deus como a fonte da nossa felicidade e sem nos importarmos se outros encontram sua felicidade em Deus. Orgulho é a paixão de ser feliz, contaminada e corrompida por duas coisas: 1) a indisposição de ver Deus como a única fonte da alegria verdadeira e duradoura; e 2) a indisposição de ver que Deus quer que outras pessoas recebam de nós a alegria nele. Se você toma o desejo de ser feliz e tira dele Deus como a fonte da sua felicidade e as pessoas como recebedoras da sua felicidade, o que resta é orgulho. Orgulho é a busca de felicidade em todo lugar, menos na glória de Deus e no bem dos outros. Agora, Jesus diz: "Ame o seu próximo como você ama a Si mesmo". E, com esse mandamento, ele corta a raiz da nossa pecaminosidade. Como ele faz isso?


O anseio de diminuir a dor e aumentar o prazer

 Jesus diz, na verdade: Começo com este traço humano inato, profundo, característico — seu amor por Si mesmo. Isso é ponto pacífico; eu parto da convicção de que ele existe. Todos têm um instinto poderoso de preservação e realização própria. Todos querem ser felizes. Todos querem viver, e viver com satisfação. Você quer comida, você quer com que se vestir, você quer ter um lugar para morar. Você quer proteção da violência contra você. Você quer ter uma atividade agradável ou que faça sentido, para preencher os seus dias. Você quer ter alguns amigos que gostam de você e passam algum tempo com você. Você quer que, de alguma forma, sua vida faça diferença. Tudo isso é amor por Si mesmo. Amor por Si mesmo é o anseio profundo de diminuir a dor e aumentar o prazer. Todo mundo, sem exceção, tem esse traço humano. Isto é o que nos leva a fazer isso ou aquilo. Mesmo o suicídio é procurado com este desejo de amor por Si mesmo. Em meio ao sentimento de total falta de sentido e esperança e da paralisia da depressão, a alma diz: "Não dá para ficar pior do que isso. Portanto, mesmo se eu não sei o que ganharei com a morte, sei que vou sair da situação em que estou". Destarte, o suicídio é uma tentativa de fugir ao que é intolerável. É um ato de amor a Si mesmo. Agora Jesus diz: Começo com este amor a Si mesmo. Isso é o que eu sei sobre você. Isso é comum a todas as pessoas. Você não precisa aprendendo, Ele vem com sua humanidade. Meu Pai o criou. Em e de Si mesmo, ele é bom. Ter fome do bem não é mau. Querer aquecer-se no inverno não é mau. Querer estar seguro em meio a uma crise não é mau. Querer ficar com saúde no meio de uma epidemia não é mau. Querer ser amado por outros não é mau. Querer que a vida faça alguma diferença positiva não é mau. Este era um traço característico do ser humano antes da queda no pecado, e não é mau em si.

Faça da medida com que busca a sua realização a medida com que se dá aos outros

Se ele se tornou mau em sua vida será manifesto agora que você ouve e responde ao mandamento de Jesus. Ele ordena: "Assim como você ama a Si mesmo, ame o seu próximo". O que quer dizer: assim como você anseia por comida quando está com fome, anseie por alimentar seu próximo quando ele está com fome. Assim como você anseia por roupas bonitas para si, anseie por roupas bonitas para o seu próximo. Assim como você deseja ter um lugar confortável para viver, deseje um lugar confortável para o seu próximo viver. Assim como você procura estar seguro e protegido de calamidades e violência, procure consolo e segurança para o seu próximo. Assim como você quer que sua vida faça diferença positiva, deseje o mesmo sentido de vida para o seu próximo. Assim como você se esforça para tirar boas notas, ajude seu próximo para que ele também tire boas notas. Assim como você gosta de ser bem recebido em ambientes novos, receba bem um estranho no meio em que você está. O que você gostaria que as pessoas fizessem a você, faça-o a elas. Em outras palavras, faça da medida com que busca a sua realização própria a medida com que se dá aos outros. A expressão "assim como" é muito radical: "Ame o seu próximo assim como você ama a Si mesmo", "Assim como!" Isso significa: Se você está empenhado em buscar sua própria felicidade, empenhe-se para que seu próximo também seja feliz. Se você é criativo na busca da sua felicidade, seja criativo na busca da felicidade do seu próximo. Se você é perseverante na busca da sua felicidade, seja perseverante na busca da felicidade do seu próximo. Em outras palavras, Jesus não está apenas dizendo: Busque para o seu próprio as mesmas coisas que você busca para si, mas: Busque-as da mesma maneira — com o mesmo empenho, energia, criatividade e perseverança. Faça da medida com que busca a sua realização a medida com que se dá aos outros. Meça sua busca da felicidade dos outros pela busca da sua própria. Como você busca seu próprio bem-estar? Busque assim também o bem-estar do seu próximo.

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Retirado de "Em Busca de Deus", John Piper






O Amor ao Próximo [Parte 1]

Esta é uma série de 3 postagens sobre: O Amor ao Próximo.



Um texto muito mal usado


Talvez o texto bíblico usado com mais freqüência para difundir a mensagem da auto-estima é: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19.18; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.14; Tg 2.8). Esse uso, porém, quase sempre envolve interpretações erradas. Mesmo nos dias de Jesus essa ordem era mal-entendida. Será que há conexão entre os antigos mal entendidos e os novos? O erro antigo girava em torno do termo "próximo", e foi denunciado por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.29-37). O erro moderno gira em torno do termo "como a ti mesmo". Em Lucas 10.25, um mestre da lei acabara de perguntar a Jesus o que era preciso fazer para herdar a vida eterna. De acordo com Lucas, a pergunta não era sincera. O mestre não estava à procura da vida eterna; ele queria pôr Jesus à prova. Sob o disfarce de uma pergunta pessoal, ele propôs a Jesus um enigma acadêmico, na esperança de enredá-lo em alguma contradição herética com o Antigo Testamento.

"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás." (Lc 10.25-28)

Escravo das aparências

Agora o mestre da lei está em dificuldades. Ficou evidente para todos que ele já sabia a resposta à pergunta. Sua motivação ao fazê-la não era um desejo sincero de informação, mas o desejo de fazer Jesus cair numa armadilha. Sua duplicidade fora desmascarada. Agora todos podiam ver que ele fora insincero, hipócrita, culpado da injustiça do ludibrio. O que ele podia fazer? Fugir envergonhado como o apóstolo Pedro e chorar amargamente pelo seu pecado? Ou, assim como milhões de pessoas antes e depois dele, tentar salvar as aparências?

Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo (e aí vem o erro antigo ligado ao termo "próximo"), disse a Jesus: E quem é o meu próximo? (vv29)

Diante da ameaça à sua reputação e consideração de Si mesmo, o pecado da autojustificação brotou. O mestre da lei foi induzido a pensar que o problema não era sua indisposição orgulhosa para arrepender-se e obedecer, mas a ambigüidade da palavra "próximo". A pergunta: "Quem e o meu próximo?" era nada mais que um artifício para salvar as aparências. Por trás da pergunta do mestre da lei há um mal-entendido tão sério da ordem de Deus que Jesus nem se dispõe a respondê-la. Com freqüência entendemos a Palavra de Deus de modo errado não por causa de descuidos intelectuais inocentes ou falta de informação, mas por causa de uma profunda recusa a submeter-se às exigências de Deus. A pessoa que pretende dirigir seus próprios negócios, manter seu orgulho, granjear apreço e glória das demais pessoas, sempre distorcerá as palavras de Jesus de modo a obter apoio para sua própria auto-estima. O mal do coração humano precede e dá origem a muitas das nossas interpretações erradas da Bíblia aparentemente intelectuais. Outra maneira de fazer a pergunta do professor da lei poderia ser: "Mestre, quem eu não preciso amar? Quais grupos da nossa sociedade são exceções a este mandamento? Com certeza os romanos, opressores do povo escolhido de Deus; e seus lacaios desprezíveis, os cobradores de impostos; e esses samaritanos mestiços — certamente todos esses não estão incluídos no termo 'próximo'. Diga-me quem é meu próximo, Mestre, para que, ao examinar os vários candidatos ao meu amor, eu cuide de escolher apenas este".

A parábola que denuncia

Jesus não quer saber de responder diretamente — o que, na verdade, era impossível— a esse tipo de pergunta. Em vez disso, ele conta uma parábola.
Um homem, provavelmente judeu, viajava de Jerusalém para Jericó quando foi atacado por assaltantes. Roubaram e espancaram-no, e o deixaram meio morto à beira da estrada. Passou por ali primeiro um sacerdote, depois um levita. Ao verem o homem, passaram pelo outro lado da estrada. Então veio um samaritano, e quando ele viu o homem ferido, sentiu compaixão por ele. Aproximou-se e tratou dos seus ferimentos, usando seu próprio óleo e vinho. Depois o colocou sobre sua própria montaria, levou-o até uma estalagem e cuidou dele até o dia seguinte. Aí deu do seu próprio dinheiro ao dono da pensão, para que continuasse tomando conta do homem, dizendo que pararia novamente na volta da viagem, para cobrir a diferença, caso não tivesse sido suficiente.

Depois de contar a parábola, Jesus devolve a pergunta ao professor da lei:

—Na sua opinião, qual desses três foi o próximo do homem assaltado?
—Aquele que o socorreu — respondeu o professor da lei.
—Pois vá e faça a mesma coisa — disse Jesus.

O objetivo da parábola de Jesus foi mostrar que o pedido do professor para que definisse o termo "próximo" na verdade tinha a intenção de desviar a atenção do que realmente interessava: o tipo de gente que ele mesmo era. O problema do professor não era definir a palavra "próximo"; seu problema, como o de todo ser humano, era tornar-se o tipo de pessoa que, por causa da compaixão, não pode passar do outro lado da estrada. Nenhum coração verdadeiramente compassivo ou misericordioso pode ficar parado enquanto a mente examina se um candidato sofredor se encaixa na definição de próximo. Se o professor tivesse estado submisso à intenção do mandamento de Deus, teria visto como sua pergunta sobre seu próximo era irrelevante. A intenção de Deus é criar uma pessoa cheia de amor, compaixão e misericórdia, cujo coração a leve irresistivelmente à ação quando houver sofrimento no seu raio de alcance, uma pessoa que interrompa sua programação, arrisque passar vergonha, use seu óleo e vinho, reparta seu dinheiro para ajudar um estranho que sofre. Jesus diz: Torne-se essa pessoa, e você herdará a vida eterna; bem-aventurados são os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. É dessa maneira, então, que o mandamento "Ame o seu próximo como a Si mesmo" era entendido errado na época de Jesus e como Jesus reagiu a isso.

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Retirado de "Em Busca de Deus", John Piper













O Percado é Uma Coisa Grave?

"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;" (Romanos 3.23)


Um pecado pode arruinar uma alma para sempre; não há poder na mente humana para captar a infinita malignidade do mal que repousa nas entranhas de um só pecado. Há uma infinidade de culpa escondida em uma só transgressão contra a majestade do Céu. Se, então, você e eu temos pecado apenas uma vez, nada exceto uma expiação de infinito valor poderá nos lavar do pecado e fazer uma satisfação por ele. Porém, temos você e eu transgredido somente uma vez? Não, meus irmãos, nossas iniqüidades são mais numerosas que os cabelos de nossa cabeça; elas têm prevalecido poderosamente contra nós. Poderemos contar as areias do mar, ou averiguar as gotas que em seu agregado fazem o oceano, antes de poder enumerar as transgressões que têm marcado nossas vidas. Retornemos à nossa infância. Quão cedo começamos a desobedecer nossos pais, e a aprender fazer de nossa boca uma cova de mentiras! Em nossa infância, quão petulantes e desobedientes fomos! Teimosos e volúveis, preferíamos nosso próprio caminho, e rompíamos violentamente toda restrição que nossos pais piedosos colocavam sobre nós. Nossa adolescência tampouco nos apaziguou. Furiosamente, muitos de nós, nos precipitávamos no meio da própria dança do pecado. Nos tornamos guias em iniqüidade; não somente pecando, mas também ensinando outros a pecar. E ao chegar à maturidade, e entrar na flor da vida, chegamos a ser sóbrios na aparência, e talvez nos livramos um pouco da dissipação de nossa juventude; porém, quão pequena melhoria ocorreu! A menos que a soberana graça de Deus tenha nos renovado, não somos melhores do que éramos no princípio; e ainda que esta mudança tenha sido operada em nós, ainda temos pecados dos quais se arrepender, e ainda temos que colocar nossas bocas no pó e cinzas sobre nossas cabeças, clamando: "Impuro! Impuro". E oh! vós que se apoiais cansadamente em vossa bengala, o suporte de vossa velhice, não permanecem ainda pecados aderidos às vossas roupas? São vossas vidas tão brancas como os alvos cabelos que coroam suas cabeças? Não sentis que a transgressão salpica as bordas de vossas vestes, manchando sua alvura? Quão freqüentemente vocês têm mergulhado no abismo, a ponto de vossas próprias roupas lhes causar abominação! Colocai vossos olhos sobre os sessenta, setenta ou oitenta anos durante os quais Deus tem poupado suas vidas;e dizei-me se podeis contar vossas inumeráveis transgressões ou calcular o peso dos delitos que haveis cometido. Oh, estrelas do Céu! os astrônomos podem medir vossa distância e dizer-nos vossa altura, porém vós, Oh pecados da humanidade!, sobrepujais toda imaginação. E vós, altas montanhas! a casa das tempestades e o ninho das tormentas! o homem pode escalar vossos picos e ficar de pé admiravelmente sobre vossas neves; mas vós, colinas do pecado! sois mais elevadas do que nossos pensamentos; vós, abismos das transgressões! sois mais fundos do que nossas imaginações se atrevem a mergulhar. Você me acusa de ultrajar a natureza humana? Isto é porque você não a conhece. Se Deus tivesse alguma vez vos manifestado vossos corações, vocês dariam testemunho de que, longe de exagerar, minhas pobres palavras falham em descrever o desespero de nossa maldade. Oh! se cada um de nós olhasse hoje para o interior de nossos corações - se nossos olhos pudessem penetrá-lo, de forma que víssemos a iniqüidade que está gravada com ponta de diamante em nossos coração empedernidos, teríamos então que dizer ao ministro, que embora ele possa descrever o desespero do pecado, por nenhum meio ele poderá exagerá-la. Quão grande então, amados, deve ser o resgate de Cristo, quando Ele nos salvou de todos estes pecados! Os homens por quem Jesus morreu, por grandes que foram seus pecados, foram justificados de todas suas transgressões. Embora eles possam ter cedido a todos vícios e luxúrias que Satanás pôde sugerir, e que a natureza humana pode cometer, ainda assim ao crer, toda a culpa foi apagada. Anos após anos podem ter se coberto com a negridão, até que seus pecados se tornassem duplamente negros; porém em um momento de fé, em um momento de triunfal confiança em Cristo, a grande redenção tirou a culpa de muitos anos. Não, mais do que isso, se fosse possível que todos os pecados que a humanidade tem cometido, em pensamento, ou palavra, ou ação, desde que o mundo foi feito, ou desde que o tempo começou, fossem colocados sobre uma única e pobre cabeça - a grande redenção é totalmente suficiente para tirar todos estes pecados e lavar o pecador, deixando-o mais alvo do que a própria neve. Oh! quem medirá a altura da suprema suficiência do Salvador? Primeiro, diga quão grande é o pecado, e, então se lembre de que, como o dilúvio de Noé prevaleceu sobre os topos das montanhas da terra, assim o dilúvio da redenção de Cristo prevaleceu sobre os cumes das montanhas de nossos pecados. Nas cortes celestiais há hoje homens que uma vez foram assassinos, ladrões, bêbados, fornicários, blasfemos e perseguidores; mas eles foram lavados - eles foram santificados. Pergunte-lhes de onde vem o brilho de suas vestes, e de onde sua pureza tem sido alcançada, e eles, em uníssono, lhes contaram que lavaram suas vestes e a embranqueceram no sangue do Cordeiro. Oh vós, de consciências turbadas! Oh vós, cansados e oprimidos! Oh vós que gemem sob o peso de vossos pecados! a grande redenção agora proclamada a vocês é toda suficiente para suprir vossas necessidades; e se a multidão de vossos pecados supera em números às estrelas que adornam o céu, aqui está uma expiação feita para todos eles - um rio que pode arrastar e levar todos eles para longe de vocês para sempre.

"Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus." 
(Romanos 3.24-26)

C.H.Spurgeon Extraido de "Redenção Particular"


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Inferno é Necessário?

 "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
(II Tm 4.7) 
"...perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.
(II Ts 2.10)




Considere uma verdade que não é popular e tem sido abandonada por muitos que têm sobre a sua tenda a bandeira de “evangélico” — a verdade a respeito do inferno. Oh! que grande diferença existe quando uma pessoa crê no inferno — com tremor e lágrimas! Existe uma seriedade permeando toda a vida, uma urgência em todos os esforços, um condimento de profunda seriedade que tempera tudo e faz com que o pecado sinta-se mais pecaminoso, e a santidade mais santa, a vida mais preciosa, os relacionamentos mais profundos e Deus muito mais importante.
Entretanto, como em toda geração, existem novos abandonos da verdade. Clark Pinnock, um teólogo canadense que insiste em se chamar evangélico, escreveu:
"A princípio fui levado a questionar a crença tradicional no tormento eterno e consciente, porque me era moralmente repugnante e por considerações teológicas mais amplas, e não por consideração de textos bíblicos. Não é lógico dizermos que um Deus de amor afligirá pessoas para sempre, por causa de pecados cometidos no contexto de uma vida finita… É tempo de os evangélicos se levantarem e afirmarem que o ensino bíblico moralmente apropriado sobre o inferno é a aniquilação, e não o tormento eterno."
Dorothy Sayers, que faleceu em 1957, expressou um antídoto necessário para este tipo de abandono da verdade:
"Parece existir um tipo de conspiração, especialmente entre os escritores de meia idade que possuem uma tendência vagamente liberal, para esquecer ou anular de onde procede a doutrina sobre o inferno. Encontramos freqüentes referências à “cruel e abominável doutrina medieval do inferno” ou “a grotesca e ingênua imagem medieval de vermes e fogo”.
O caso, porém, é exatamente o contrário. Encaremos os fatos. A doutrina do inferno não é “medieval”; é uma doutrina ensinada por Cristo. Não é um artifício do “clero medieval” para atemorizar o povo e fazê-lo dar dinheiro à igreja. O inferno é o julgamento deliberado de Cristo sobre o pecado. A imagem de vermes que não morrem e de fogo inextinguível deriva-se não da “superstição medieval”, e sim do profeta Isaías; e foi Cristo quem a usou enfaticamente… Ela nos confronta no mais antigo e menos “editado” dos evangelhos; está explícita em muitas das parábolas mais familiares e implícita em muitas outras. Esta figura tem, nos ensinos de Cristo, uma dimensão maior do que alguém possa perceber, até que comece a ler todos os evangelhos, em vez de selecionar e ler somente as passagens mais consoladoras. Ninguém pode se livrar desta doutrina, sem despedaçar o Novo Testamento. Não podemos repudiar o inferno, sem repudiarmos a Cristo.
Oh, se eu tivesse palavras para descrever a você neste momento o que é a morte eterna. A alma compareceu diante do seu Criador; o livro foi aberto; a sentença foi declarada: " apartai-vos malditos". O universo foi sacudido, e tomou as próprias galáxias obscurecidas com a desaprovação do Criador; a alma se foi as profundezas onde habitara com outras na morte eterna. Oh quão terrível e a sua posição agora. Seu leito é um leito de chamas: as visões que ela tem são horrendas horripilam-na; os sons que ouve são gritos, lamentações choros, e grunhidos; tudo que o seu corpo conhece é a imposição de dores lancinantes! Ele tem o inexprimível infortúnio da miséria não mitigada. A alma olha para baixo com medo e pavor; o remorso toma posse dela. Ela olha para sua direita. e as paredes inflexíveis da ruína a mantém dentro dos limites da tortura. Olha para sua esquerda, e ali o baluarte de fogo ardente impede a escalada de qualquer imaginado escape. Olha para dentro de si e ali procura por consolação, mas um verme torturante já penetrou nela. Ela olha em volta não tem amigos que a ajudem, nem consoladores, e sim atormentadores em abundância. Não conhece a esperança da libertação; já ouviu o eterno ferrolho do destino fechando a porta da terrível prisão, e viu Deus tomar a chave e jogá-la nas profundezas da eternidade para nunca mais ser achada. Sem esperança, desconhece escape, não conjectura libertação; suspira pelo fim, mas a morte é por demais um adversário para ali estar; deseja ardentemente que a não existência a possa tragar, mas esta morte eterna é pior do que o aniquilamento. Anseia pelo extermínio como trabalhador pelo seu dia de descanso; deseja profundamente que possa ser engolida pelo nada, assim como o escravo da galé deseja sua liberdade qual nunca chega. Está eternamente morta. Quando a eternidade tiver dado incontáveis voltas a alma perdida ainda estará morta. "Para todo o sempre" não conhecerá fim; a eternidade não pode ser soletrada a não ser na eternidade. No entanto, a alma vê assento sobre a sua cabeça; és maldita para sempre. Ela ouve gritos que serão perpétuos; as chamas que são inextinguíveis; conhece dores que não terão alivio; ouve uma sentença que não ruge como um trovão da terra que logo cessa porém, continua sempre e sempre, retinindo os ecos da eternidade - fazendo milhares de anos tremer outra vez com o terrível estrondo do seu pavoroso ruído; Apartai! Apartai! Apartai malditos! Olhai! Olhai! Olhai com solene olhar através das trevas que nos separam do mundo dos espíritos, e vede aquela casa da miséria que os homens chamam Inferno! Não podeis suportar o espetáculo. Lembre-se que naquele lugar há espíritos pagando para sempre a dívida à justiça divina; mas embora alguns deles tenham estado durante os últimos quatro mil anos abrasando-se nas chamas, eles não estão mais perto da libertação do que quando começaram; e quando dez mil vezes dez mil anos tiverem passado, continuarão sem ter feito satisfação a Deus por sua culpa, como não a tem feito até agora. E agora, podeis captar o pensamento da grandeza da mediação de vosso Salvador quando Ele pagou a vossa dívida, e a pagou de uma vez por todas; de forma que agora não há um só centavo de dívida do povo de Cristo ao seu Deus, exceto a dívida de amor.

Eu acrescentaria: existem muitas outras coisas que, abandonadas, também equivalerão ao eventual repúdio de Cristo. Não é por causa de uma lealdade ultrapassada que amamos as verdades da Escritura — nem mesmo as mais severas. É por causa do amor a Cristo — e por causa do amor para com o seu povo —povo esse que somente o Cristo da verdade pode salvar.

Citações de John Piper, livro "Penetrado Pela Palavra", e C.H.Spurgoen, "Livre-Arbítrio um Escravo" e "Redenção Particular" editado por Abraão Rodrigues.



O Preço Que Ele Pagou

Na  Manhã de Domingo, 28 de Fevereiro de 1858, o Reverendo C. H. Spurgeon pregava um sermão intitulado de "Redenção Particular". Um belíssimo sermão, mas uma parte me chamou muito a atenção foi quando ele fala dos sofrimentos de Cristo. A sua abordagem me fez pensar no famoso filme "A Paixão de Cristo", e de como a sua abordagem não perde em nada para o filme que é uma grande produção  Hollywoodiana, contemplemos:


"É impossível para nós sabermos quão grandes foram os tormentos de nosso Salvador; mas, todavia, algum vislumbre deles nos dará uma pequena idéia da grandeza do preço que Ele pagou por nós. Oh Jesus, quem descreverá Tua agonia?

“Vinde a mim, vós todos os mananciais,
Habitai na minha cabeça e olhos; vinde, nuvens e chuva!
Minha aflição necessita de todas essas águas,
Que a natureza tem produzido em vós
Absorvei um rei para suprir meus olhos,
Meus olhos cansados de chorar, por demais secos para mim,
A menos que eles consigam novos condutos, novos suprimentos,
Para que se encham novamente, e com minha situação concordar”.

Oh Jesus! Tu foste um sofredor desde teu nascimento, um homem de dores, experimentado nos sofrimentos. Teus sofrimentos caíram sobre Ti numa chuva perpétua, até a última temerosa hora de trevas. Então não numa chuva, mas numa nuvem, uma torrente, uma catarata de aflição, Tuas agonias se precipitaram sobre Ti. Vejo-O lá! É uma noite de geada e frio; mas Ele está no campo. É noite; Ele não dorme, mas está em oração. Ouvi Seus gemidos! Já houve algum homem que lutou como Ele luta? Ide e olhai em Sua face! Haveis visto alguma vez sobre um rosto mortal como o vosso, semelhante sofrimento que ali podeis contemplar? Ouça Suas próprias palavras: “A minha alma está cheia de tristeza até a morte”. Ele levanta: é
agarrado e arrastado pelos traidores. Caminhemos ao lugar onde Ele havia estava em agonia. Oh Deus! O que é isto que nós vemos? O que é isto que mancha a terra? É sangue! De onde veio? Talvez de alguma ferida que tenha se aberto de novo por Sua horrenda luta? Ah! Não. “O Seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão”. Oh agonias que sobrepujam as palavras, que não bastam para descrever! Oh sofrimentos que não podem ser narrados em linguagem! Quão terríveis devem ter sido, a ponto de excitar a estrutura bendita do Salvador, e forçar um suor de sangue cair de todo Seu corpo? Este é o princípio; este é o começo da tragédia. Segui-O tristemente, tu igreja aflita, para dar testemunho de consumação. Ele é conduzido apressadamente através das ruas; é arrastado primeiro para um tribunal e então para outro; é arremessado e condenado ante o Sinédrio; Ele é escarnecido por Herodes; examinado por Pilatos. Suas sentença é pronunciada – “Crucifica-o!” E agora a tragédia chega ao seu momento culminante. Suas costas são expostas; Ele é amarrado à coluna Romana do suplicio; o azorrague sangrento levanta sulcos em Suas
costas, e como por um rio de sangue Suas costas se avermelham – um manto carmesim que O proclama imperador da miséria. Ele é tomado por soldados; Seus olhos estão vedados, e então eles O esbofeteiam, e dizem: “Profetiza-nos, Cristo, quem é o que te bateu?” Eles cospem sobre Seu rosto; tecem uma coroa de espinhos, e a espremem sobre sua têmpora; O vestiram com um manto de escarlate; ajoelhavam diante dEle e O zombavam. Ele permaneceu totalmente em silêncio; não respondeu uma só palavra. “Quando O injuriavam, não injuriava”, mas entregou-se Àquele a quem veio servir. E agora eles O tomam, e com muitas zombarias e desprezos O conduzem do palácio para as ruas apressadamente. Emagrecido pelos contínuos jejuns, e deprimido com a agonia de espírito, Ele tropeça sob o peso de Sua cruz. Filhas de Jerusalém! Ele desmaia em vossas ruas. Eles O levantam; colocam Sua cruz sobre os ombros de outro, e O empurram, talvez com a ponta da lança, até que finalmente Ele chegue ao monte da maldição. Soldados rudes O agarram, e O arremessam sobre Suas costas; o madeiro transversal é posto debaixo dEle; Seus braços são
esticados para alcançar a distância necessária; os cravos são preparados; quatro martelos cravam num só momento as partes mais frágeis de Seu corpo; e ali está Ele sobre Seu lugar de execução, morrendo sobre Sua cruz. Todavia, não está terminado. A cruz é levantada pelos rudes soldados. Há um buraco preparado para ela. A cruz é solda bruscamente em seu lugar: eles enchem o lugar com terra, e ali ela permanece.
Mas vede os membros do Salvador, como tremem! Todos os seus ossos estão desconjuntados pelo golpe cruel da cruz contra o solo! Como Ele chora! Como suspira! Como geme! E ainda mais. Ouvi Seu último grito de agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?” Oh sol, não é de estranhar que feches teus olhos, e não contemples por mais tempo um ato tão cruel! Oh rochas, não é de estranhar que derretestes e romperam vossos corações com simpatia, quando vosso Criador morreu! Nunca alguém sofreu como este homem sofreu. Até mesmo a morte se enterneceu, e muitos do que estavam em seus túmulos levantaram e entraram na cidade. Isto, contudo, é apenas o sofrimento exterior. Creiam em mim, irmãos, o interno foi muitíssimo pior. O que nosso Salvador sofreu em Seu corpo não é nada comparado com o que Ele suportou em Sua alma. Não podeis imaginar, nem tenho palavras para ajudar-lhes, o que Ele suportou por dentro. Suponhamos por um momento – para repetir uma sentença que freqüentemente tenho usado – suponhamos um homem que tenha caído no Inferno – suponhamos que todos os seus tormentos eternos pudessem ser concentrados em uma hora; e então, suponhamos que ela possa ser multiplicada pelo número de salvos, que é um número que excede toda enumeração humana. Podeis imaginar agora qual a vasta agregação de miséria que haveria nos sofrimentos de todo o povo de Deus, se eles tivessem sido castigados por toda a eternidade? E recordai que Cristo teve que sofrer o equivalente a todos os infernos de todos os Seus redimidos. Eu não posso expressar este pensamento melhor do que com aquelas conhecidas palavras: parece como se o Inferno fosse posto em Seu copo; Ele o tomou, e, “Num tremendo gole de amor, Ele bebeu a condenação, deixando o copo seco”. Assim pois, não há nada restante de todos os sofrimentos e misérias do Inferno que o Seu povo deveria sofrer para sempre. Eu não digo que Ele sofreu nesta mesma proporção, mas que suportou um equivalente a tudo isto, e deu a Deus a satisfação por todos os pecados de todos de Seu povo, e conseqüentemente, levou um castigo equivalente a todos os castigos deles. Podeis agora sonhar, podeis imaginar a grande redenção de nosso Senhor Jesus Cristo?"

GLORIAS A JESUS CRISTO!!!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Oração, O Tesouro do Verdadeiro Cristão

Três considerações sobre oração, retiradas do livro "Em Busca de Deus" do pastor John Piper.

Por que o cristão que busca o prazer está de joelhos


Uma das evidências de que a busca da nossa alegria e a busca da glória de Deus devem ser a mesma coisa é o ensino de Jesus sobre oração no Evangelho de João. As duas declarações-chave estão em João 14.13 e 16.24. Uma mostra que a oração é a busca da glória de Deus. A outra mostra que a oração é a busca da nossa alegria. Em João 14.13, Jesus diz: "E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho". E em João 16.24 ele diz: "Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra". A união desses dois objetivos — a glória de Deus e a alegria dos seus filhos— é claramente preservada no ato da oração. Por isso, o cristão que busca o
prazer será, acima de tudo, uma pessoa consagrada à oração séria. Assim como o cervo sedento se ajoelha para beber no riacho, a postura característica do cristão que busca o prazer é de joelhos. Olhemos mais de perto a oração como busca da glória de Deus e como busca da nossa alegria, nessa ordem.

A oração como busca da glória de Deus

Ouça mais uma vez as palavras de Jesus em João 14.13: "E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho". Imagine que você está totalmente paralisado e não pode fazer nada por Si mesmo, a não ser falar. E imagine que um amigo forte e confiável prometeu morar com você e fazer tudo o que você precisa fazer. Como você pode glorificar seu amigo se um estranho vem ver você? Você tentaria glorificar sua generosidade e força tentando sair da cama a carregando-o?

Não! Você diria: "Meu amigo, por favor venha levantar-me, ponha um travesseiro nas minhas costas para que eu possa olhar para o meu visitante. E, por favor, ponha os óculos em mim". Desse modo, seu visitante concluiria a partir de seus pedidos que você está impossibilitado e que seu amigo é forte e gentil. Você glorifica seu amigo precisando dele, pedindo-lhe que o ajude e dependendo dele.

Em João 15.5, Jesus diz: "Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer". Portanto, somos realmente paralíticos. Sem Cristo não somos capazes de nada bom. Como Paulo diz em Romanos 7.18: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum".

Mas, de acordo com João 15.5, Deus quer que façamos algo bom — dar fruto. Assim, como nosso amigo forte e confiável — "Tenho-vos chamado amigos" (João 15.15)— ele promete fazer por nós o que não podemos fazer pessoalmente.

Como, então, podemos glorificá-lo? Jesus dá a resposta em João 15.7: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito". Nós oramos! Pedimos a Deus que faça por nós por intermédio de Cristo o que não podemos fazer por nós mesmos — dar fruto. O versículo 8 apresenta o resultado: "Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto". E como Deus é glorificado pela oração?

A oração e a admissão publico de que sem Cristo não podemos fazer nada. Orar é desviar-se de Si mesmo para Deus, na confiança de que ele providenciará a ajuda de que precisamos. A oração nos humilha, como necessitados, e exalta Deus, como rico.

Se você o conhecesse, você pediria!

Em outro texto em João, que mostra como a oração glorifica a Deus, Jesus pede a uma mulher que lhe dê um copo de água: "Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva." (João 4.9-10). Em outras palavras:

—O senhor é judeu, e eu sou samaritana. Então como é que o senhor me pede
água?— respondeu a mulher.
— Se você soubesse o que Deus pode dar e quem é que está pedindo água, você pediria, e ele lhe daria água da vida!

Se você fosse um marinheiro severamente afligido de escorbuto, e um homem generoso viesse a bordo com os bolsos cheios de vitamina E e lhe pedisse um gomo de laranja, você até poderia dar-lhe. Mas se você soubesse que ele é generoso, e que ele tinha consigo tudo de que você precisa para ficar bom, você viraria a mesa e lhe pediria ajuda.

Jesus disse à mulher: "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias" Há uma relação direta entre não conhecer Jesus bem e não pedir muito a ele. A pessoa que não ora geralmente não conhece a Jesus. "Se tu conheceras (...) quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias" Uma vida cristã sem oração é como um motorista de ônibus que tenta sozinho tirar o veículo de um atoleiro porque não sabe que Clark Kent está a bordo. "Se tu conheceras (...) tu lhe pedirias" Uma vida cristã sem oração é como ter as paredes do quarto revestidas de cupons de brinde das Lojas Americanas, mas sempre comprar no brechó da esquina porque você não sabe ler. "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias — você pediria!"

Todas as citações bíblicas deste blog são retiradas da Bíblia Almeida Corrigida e Fiel ao Texto Original (ACF)